sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Cléber Gaúcho: ‘quero deixar saudades’

Cléber Gaúcho

Em uma matéria especial, meio-campista Xavante fala sobre a identificação dele com o Brasil e da grande carreira que está chegando ao fim.

A chegada do técnico Gilmar Iser ao Brasil, e as indicações de mudanças no time, trouxe novamente aos holofotes rubro-negros a presença de um grande ídolo da torcida Xavante: Cléber Gaúcho. O meio-campista, que atua em qualquer uma das funções da meia-cancha, não vinha tendo oportunidades com o ex-treinador, Fahel Júnior, e, pela primeira vez em 17 anos de carreira, estava encarando o famigerado banco de reservas.
A situação poderia ser considerada normal para qualquer jogador, mas Cléber Gaúcho não é um jogador qualquer. Nunca foi assim com ele. Em 1993, com 18 para 19 anos, ele se apresentou para fazer um teste no Brasil, o clube que acompanhava pela TV na pequena cidade de Camaquã – cerca de 125km distante de Pelotas. O garoto prodígio foi então aprovado no ‘peneirão’ das categorias de base do Xavante e demorou poucos dias para chamar a atenção da turma de cima e passar a treinar entre os profissionais.
Era um sonho que começava a ser materializado. Cléber, que até então ‘não era Gaúcho’, estava batendo bola com o time que ele aprendeu a amar desde a infância. Ele agora fazia parte daquela seleção de craques, que poucos anos antes povoavam a imaginação de um guri deslumbrado com o mundo do futebol.
- Pô, quando eu era pequenininho eu acompanhava o Brasil e o todo esse fanatismo da torcida Xavante pela televisão. Era uma época em clube tinha grandes jogadores como o Silva, Hélio, Clausemir, Paulo Roberto, Cássio, que continua aqui conosco, Gilson Cabeção, Bira Burro, enfim, inúmeros jogadores que me impressionavam pela qualidade. Acredito que por isso até, mesmo que em Camaquã as pessoas tivessem a tendência de torcer por algum time da dupla GRE-NAL, eu acabei me identificando com o Brasil.
- Em 1985 ainda teve aquela campanha memorávelno Campeonato Brasileiro e isso contribuiu mais ainda. Claro que naquele tempo eu já sabia que queria ser jogador de futebol e aí já fui criando uma afinidade maior com o Brasil, mas sem nem ao menos imaginar que um dia eu viria ao Bento Freitas, para fazer um teste nos juniores, ser aprovado e uma semana depois já estar treinando entre os profissionais.
Uma semana depois já estava treinando entre os profissionais e poucos meses depois já era uma das estrelas do time de cima. Foi uma ascensão brilhante, uma explosão para o mundo da bola. Em 1993 mesmo, só que no segundo semestre, Cléber foi titular absoluto do Brasil na conquista da Copa RS e ainda foi eleito o destaque daquela competição estadual.
Em 1995 aconteceu a primeira transferência. A carreira de jogador ganhava maioridade e ele foi para o XV de Piracicaba, no interior de São Paulo, depois de ser vendido para a TAM – empresa de linhas aéreas que mantinha negócios no meio futebolístico.
Mesmo longe das duas casas, a de Camaquã e a de Pelotas, a estrela de Cléber continuou brilhante e o talento sempre aparecendo. Tanto que naquele mesmo ano ele foi campeão da Série C do Campeonato Brasileiro e, vejam as peripécias do destino, na fase de mata-mata da competição ainda fez gol contra o próprio Xavante.
Três anos mais se passaram e o bom filho retornou à Baixada, para reforçar o Brasil na disputa da fase finai do Gauchão de 1998, contra o Grêmio. A essa altura Cléber era considerado uma peça de luxo no time rubro-negro. E ele não deixou por menos. Na partida de volta do confronto com o tricolor – um jogo no Olímpico, em que a vitória era a única alternativa –, foi dele o gol que abriu a contagem para o triunfo inesquecível em Porto Alegre.
Foi uma passagem relâmpago, é verdade, mas que serviu para desengasgar aquele gol dele em cima do Cássio, para manter viva a imagem do ídolo na Baixada e para abrir os trilhos das grandes conquistas. Como o título da Série B do Brasileirão, em 2002, pelo Criciúma, ou o título da Copa do Brasil, pelo Santo André, em 2004. Sem falar no Campeonato Goiano, pelo Goiás, em 2006, dois anos antes do regresso final.
E que regresso! Em 2008, Cléber Nelson de Andrade Raphaelli, que já atendia naturalmente por Cléber Gaúcho, pisou mais uma vez no gramado onde tudo começou. A reapresentação foi digna de um ídolo, com direito a pulos no alambrado e bafo quente com a torcida. Tudo isso antes de uma partida em que ele nem iria disputar.
Contudo, apesar da euforia descontrolada diante daquela massa pulsando em vermelho e preto, o Gaúcho já não era aquele mesmo de dez anos antes, o que derrubou o imortal. Com o passar do tempo, Cléber foi ganhando corpo de jogador, conhecendo os atalhos das quatro linhas e afiando as armas. Resultado: amadureceu, e ficou ainda melhor.
- Com os passar dos anos eu fui adquirindo cada vez mais responsabilidade. Em termos de trabalho dentro de campo, depois de aprender com tantos técnicos diferentes, eu passei a ter muita obediência tática e acho que foi isso, inclusive, que me levou a ter êxito na carreira e ser titular em todos os clubes por onde eu passei.
Titular e capitão em 2008. Naquele ano o meio-campista foi um dos responsáveis pela grande campanha do Brasil na Série C. Em 2009, depois de passar pelo trágico acidente de 15 de janeiro, ele repetiu o feito na terceira divisão do futebol brasileiro novamente.
Este ano o dono da braçadeira ficou quase sem voz de tanto insistir para que as coisas mudassem durante a discretíssima passagem do Xavante pela Segundona Gaúcha. Já nesta Série C, Cléber Gaúcho ainda não entrou em campo. Mas em todos os jogos foi ele quem deu a última palavra no vestiário antes de cada partida. Sempre repetindo, sem cansar, toda a história de tradição do clube Xavante e enumerando motivos para que cada jogador enchesse de raça aquela camisa que ele considera um manto sagrado.
- Independente de estar jogando ou não, eu levo sempre os mesmos princípios, principalmente respeitando a decisão do treinador, independente de achar que essa decisão é certa ou errada. Se achar que não é certa, tem que treinar melhor, jogar mais, porque uma hora a oportunidade vai chegar. Enquanto isso é preciso apoiar os companheiros que vão para a batalha edar força para todos.

E de onde vem tanta motivação?

- A motivação vem, principalmente, porque eu gosto de futebol. Além disso, eu também sempre fui doutrinado, desde os meus primeiros treinadores, de que a gente precisa aproveitar o máximo que o futebol pode dar, porque essa carreira é curta. A gente pode até achar que não quando está começando, com 20 e poucos anos, mas daqui a pouco, num piscar de olhos, ela chega ao fim.
Pois Cléber Gaúcho está quase piscando os olhos. A aposentadoria já foi anunciada. O último jogo do Brasil nesta competição nacional também vai ser o último dele como jogador profissional. Está chegando o momento em que as chuteiras vão encontrar as cabines. Mas até lá o 'Clebinho’ de Camaquã ainda vai correr muito atrás de um futuro melhor para o clube que o retém na história. Porque o maior desejo do pai da pequena Beatriz agora se resume a um acesso. E é bom não duvidar de quem já conquistou tanta coisa na vida.
- Por isso, mesmo me preparando para encerrar a carreira, eu continuo tentando fazer o melhor dentro dos treinamentos, me aperfeiçoando a cada dia, porque eu não quero parar e as pessoas dizerem ‘o Cléber parou tarde’. Eu quero parar e alguém ainda dizer ‘pô, o Cléber poderia jogar mais um ano ou dois’. Ou seja, eu não quero fazer que as pessoas me parem, eu quero deixar saudades e quero, principalmente, deixar o Brasil na Série B.

Leonardo Crizel
Assessoria de Imprensa GE Brasil
imprensa@gebrasil.com.br

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